Avançar para o conteúdo principal

Instrumentos de avaliação política — imperfeitos mas úteis!

Muitas vezes quando se fala de política, a maioria das pessoas diz “ah eu não ligo a isso”. E, muitas vezes, isto é muito diferente daquele sentimento de distanciamento que os maus políticos criam na sociedade. Muitas vezes é uma expressão de um sentimento genuíno de não conhecer o funcionamento dos sistemas políticos e a identidade dos partidos. Ou de conhecer apenas o discurso e ciência política da televisão.

Há muitos mais eixos de caracterização do que os dois (ou três) que os quizzes mais populares apresentam. Por Espíritu nocturno [CC0], retirado do Wikimedia Commons

Neste contexto, os instrumentos de avaliação política procuram resolver essa questão num sistema de profiling. Através de perguntas e respostas, tentam ver a que grupo é que uma pessoa mais se identifica, quer isto ocorra de forma local, regional ou internacional. Alguns exemplos destes instrumentos são o  political compass, o Political Typology Quizz ou, dos que mais gostei de fazer, o I side with. Este último porque tem informação para vários países e várias línguas (pode-se fazer o quizz dos EUA em português), tem vários eixos de análise, contrariando os mais populares, e, para mim, deu resultados coerentes várias vezes. Trata-se, afinal, aquele que faz mais justiça à complexidade e múltipla dimensão dos conjuntos ideológicos.

No entanto, em alguns pontos, estes quizzes falham, como são a sua elevada dependência sociológica e a sua falta de bases teóricas.

O primeiro dos quais, e que está relacionado mais com os da família “I side with” é que o funcionamento destes é exclusivamente empírico. Isto é, as características que estão associados ao partido x são recolhidas e definidas pelas respostas dos utilizadores do quizz. O que acontece é que, no fim destes questionários, muitas vezes as pessoas escolhem qual o partido com que se identificam mais e, assim, o programa vai construindo características em comum com as pessoas que se identificam com certo partido e ganhando robustez a outsiders pelo aumento do número de respostas. O que resulta disto é que podemos estar a criar uma imagem do que é ser Liberal pelo que as pessoas acham e não pelo que é verdade, o que, no caso português, é bem problemático.

Depois, e de forma reversa, estes têm falta de bases teóricas. Se o problema das ideologias políticas fosse fácil de resolver, por que é que haveria politólogos e cientistas sociais a falar do tema? É que ciência não é só o que se faz de bata, e existem problemas complexos que necessitam de um estudo profundo e de uma resposta cuidada, não apenas do senso comum. Os partidos políticos são, antes de mais grupos de princípios e importa perceber como as pessoas definem e hierarquizam esses princípios ou rejeitam outros.

Mas, não obstante, os seus pontos positivos excedem largamente as suas debilidades. Estes conseguem comparar opiniões e estabelecer quadros de referência que comparam as pessoas com os partidos e figuras políticas. Estes podem dar alguma clarificação aos que estão erroneamente identificados com uma ideologia quando na realidade estão num outro estado de alma. E, melhor de tudo, estes podem ajudar a contrariar uma atitude apolítica cujo maior risco é a erosão da Democracia.

Comentários

  1. Texto muito interessante. De quem é esse texto? E possível contato com o autor?

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mais lidas

Infineon: making life easier, safer and greener

A empresa alemã focada na produção de semicondutores, altamente orientada para a área da novas tecnologias, desenvolve os seus produtos para os mercados da indústria automóvel, energias renováveis, controlo de energia industrial, chip-card e segurança. Joana Marques (Directora Geral da Infineon Technologies Shared Service Center - IFSSC), partilha que a organização está a alinhar a sua estratégia com o dia de amanhã, o investimento recentemente aplicado na produção de "chips" que permitem maior interação entre o ser humano e a máquina, como por exemplo comunicar e controlar remotamente electrodomésticos ou maquinaria industrial através de aparelhos móveis, de uma app, tem sido a palavra de ordem. A IFSSC nasce em 2003, no Porto e é resultado da centralização dos serviços administrativos de suporte à atividade produtiva. Este modelo de negócio pioneiro consolidou-se com sucesso e há, de facto, ganhos de produtividade e eficiência porque existe um esforço concentrado ...

A elitização da informação

É incrível como tanto pode mudar em tão pouco tempo. Há 44 anos, lutava-se por liberdade, combatia-se pelo direito a manifestar opinião e um dos luxos mais exorbitantes era o acesso ao conhecimento. Em Portugal, a revolução de 1974 abriu pela primeira vez as portas ao pensamento crítico e à liberdade de expressão. Contudo, a meu ver, a rapidez deste processo de emancipação provocou alguns efeitos nocivos e indesejados. Infelizmente, é da natureza humana tomar por garantido aquilo que tem, deixando de lhe dar o devido valor. Dirijo-me em especial à minha geração. Muitos de nós, como é o meu caso, têm pais que queriam ter prosseguido os estudos, mas que apenas concluíram a quarta classe obrigatória e foram obrigados a trabalhar a partir de tenra idade. Vejamos o exemplo da educação. Antigamente era vista como um privilégio. Só quem provinha de uma família abastada tinha acesso a formação. Hoje em dia, ir à escola é encarado como um trabalho indesejado que ninguém quer fa...