“É uma verdade universalmente reconhecida que
um homem solteiro, na posse de uma boa fortuna, precisa de uma esposa”.
Publicado
em 1813, “Orgulho e Preconceito”
centraliza a sua história no amor que quebra preconceitos e une diferentes
classes sociais.
Elizabeth
Bennet é uma das cinco filhas de um proprietário rural de Meryton, uma cidade
fictícia nos arredores de Londres. Inteligente, determinada e impulsiva,
Lizzie, como é carinhosamente tratada pelas irmãs, é-nos apresentada como uma
jovem progressista e de opiniões fortes que precisa de lidar com os problemas existentes
na sociedade inglesa da época. Apesar de saber que as possibilidades de
ascensão social de uma mulher se limitavam a um bom casamento, Elizabeth é
movida pelo amor, acreditando que apenas este a poderá levar ao altar.
Conhece
Fitzwilliam Darcy numa festa local, onde a sua arrogância a faz, quase de forma
imediata, desenvolver uma ideia pré-concebida sobre ele. Estereótipo de um
lorde inglês, Darcy é um aristocrata bem-sucedido, inteligente, bonito e culto.
De facto, o sentimento é recíproco. As primeiras impressões que têm um do outro
não são as melhores e a sua história tinha tudo para dar errado, mas não deu...
Ao
contrário do romance na sua forma mais típica, esta não é uma história de amor
à primeira vista. É antes uma história de ódio, tendo contudo uma lição
semelhante. Seja amor, seja ódio, à primeira vista acabam por ser a mesma
coisa: formas fáceis e rápidas de classificar os outros e de nos enganarmos a
nós próprios. No romance, Elizabeth despreza a arrogância de Darcy sem
compreender que essa característica funciona, por vezes, como uma forma de autodefesa.
Por outro lado, Darcy despreza Elizabeth porque esta constitui uma ameaça ao
seu conforto social e sentimental. Contrariamente ao que possa transparecer,
estas não são personagens divergentes, mas sim, no seu orgulho e preconceito,
rigorosamente iguais.
Educação,
cultura e conveniências da aristocracia rural compõem o quadro conflituoso no
qual a história evolui em torno dos estereótipos da época. O enredo retrata
fielmente uma sociedade do século XVIII, bastante marcada por jogos de
interesses e pelos valores conservadores que defendia. Ao longo da obra vamos
encontrando observações satíricas e irónicas, repletas de humor, da sociedade
rural e nobre de Inglaterra. A crítica estende-se ao comportamento das mulheres
dependentes e desesperadas pelo casamento, ao falso romantismo que pautava as
relações, à natureza arrogante das figuras públicas e ao espírito feminino
livre e sonhador que nem sempre se revela o melhor a adotar. Com isto, elenca
na perfeição as consequências do excesso de orgulho e dos preconceitos,
características intemporais a qualquer sociedade.
Aliás,
não foi ao acaso que “First Impressions”
foi o título original que a autora atribuiu a esta obra. A existir um tema
central neste romance é certamente a brilhante reflexão sobre a forma como as
primeiras impressões e as ideias apressadas que construímos sobre as pessoas
que vamos conhecendo acabam, muitas vezes, por corroer as nossas relações com
os demais.
Outro
fator que merece especial destaque é a crítica às aparências. Podemos
percebê-la através das trajetórias das personagens de Darcy e Wickham – um
oficial, conhecido de Darcy, com quem Elizabeth trava amizade. O primeiro, que
é inicialmente arrogante e comete atos de egoísmo, mostra-se, no final, capaz
de ultrapassar o seu orgulho em nome do amor. Já o último, que desde o início
se apresentou como o melhor dos partidos, acaba por se revelar um homem
interesseiro e com mau caráter.
“Orgulho e Preconceito” é a prova de que
os clássicos são-no por uma razão: a intemporalidade. São obras que atravessam
gerações sendo lidas, relidas e celebradas. Neste caso, o segredo está também em
retratar de forma única e envolvente um amor puro e singular que contraria a
lógica dos relacionamentos atuais, sem o auxílio do contacto físico ou apelo sexual.
Catarina Cardoso
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