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Let’s TED talk

As TED Talk são cada vez mais um evento adorado pelas mais diversas faixas etárias à volta do mundo. Conferências realizadas pela fundação Sapling, sem fins lucrativos, cujo intuito e principal objetivo é ajudar a abrir mentes, confrontar ideais, dar luz a assuntos tabu e fazer de cada conferência um brainstorming de ideias, conceitos e visões do mundo, tal como se autodescreve o próprio slogan “Ideas worth spreading”.

No passado dia 14 de abril realizou-se na Casa da Música, no Porto, o TEDxPorto 2018 (x = ” independently organized TED event”). Como qualquer outro evento do género, a conferência aludiu em torno de um tema central: “É natural?”, que este ano contou com 16 oradores que nos levaram numa viagem entre os prós e contras do natural e do artificial, numa visão dividida em quatro segmentos: “um outro olhar, um outro pensar, um outro ser, um outro futuro”.

O evento arrancou com a psicóloga Simone Costa, que relembrou a sua infância e o contacto com a natureza e o ar livre, que afirma ter perdido ao longo dos anos. Com isto em mente, tem explorado o mundo e as diversas tentativas que por aí se têm desenvolvido para aproximar as crianças do ar livre, tendo a própria um sonho que toma nome em “Escola da Floresta”. Simone afirma como seu almejo “criar escolas em Portugal onde o natural e artificial possam viver em harmonia.”

Mas nem todos os oradores se encontravam de acordo quanto ao que é natural e até que ponto este deve ser tido em maior consideração que o artificial. O bioquímico David Marçal afirmou, perante uma plateia lotada, que “o natural é uma designação comercial inconsistente que ninguém realmente conhece”. Frases como esta fazem-nos efetivamente pensar e refletir sobre o que nos é, diariamente, vendido como “natural”.

Talvez com esta mesma reflexão em mente, Diogo Silva, ativista dos direitos humanos, tomou o palco para nos dar uma pequena lição sobre o estigma da comunidade LGBTI. Num discurso pessoal e visivelmente motivado pelo seu percurso de vida, este orador alertou-nos para as diferenças entre identidade de género, expressão de género e orientação sexual. Três definições completamente dissemelhantes umas das outras, mas comummente tidas como equivalentes.

Ainda numa tentativa de quebrar preconceitos, a Professora Alexandra Oliveira da FPCEUP, abafou os nossos pré e pós julgamentos ao que nos iria falar com a simples questão: “Quem aqui acha que dois adultos podem ter relações sexuais consentidas?”. Naturalmente a resposta foi unânime e todos os presentes levantaram os braços. Foi então que Alexandra nos começou a falar do cada vez mais avançado e controlado negócio da prostituição. Com um enorme estigma em torno deste conceito, a professora prefere referi-lo como negócio do sexo, e prossegue em defesa de todas e todos que estão dentro desta atividade e que não têm direito a uma voz. A oradora fala com um objetivo: humanizar estas pessoas, que, pelas suas palavras “fazem uma opção ponderada depois de equacionadas as vantagens e desvantagens de começar uma atividade que é rentável, mas altamente estigmatizada e não reconhecida.”

Numa linha mais emotiva, Gustavo Carona, médico voluntário e autor do livro “1001 cartas para Mosul”, trouxe lágrimas às mais de mil pessoas que, atentamente, o ouviram falar sobre algumas das suas missões em cenários de guerra como a Síria ou a República Centro-Africana. Explicou que o medo, natural, que sente ao ir nunca o impediu de se pôr em pé de igualdade com quem o destino não foi tão generoso. Gustavo afirma deixar uma mãe chorosa sempre que parte, mas diz que “se acreditamos que todas as vidas são iguais, os filhos dos outros não são menos importantes do que os nossos filhos.”

Mas não foi só Gustavo que nos tocou o coração. Debra Kamin, com o relembrar do terrível genocídio de 1994 na Ruanda, e com as suas histórias dos tempos que passou por lá como jornalista do New York Times, alertou-nos para a força humana e fez-nos perceber que é mais natural sobreviver, perdoar e tentar de novo do que guardar rancor. Debra presenciou reconciliações entre antigos inimigos e rendeu-se à natureza humana. No fim, a jornalista deixou-nos com este pensamento: “If there is something that you and I can learn with Ruanda it’s this: the truth may not set you free but it can absolutely help you rebuild.”

Numa visão mais centrada para as tecnologias e o desenvolvimento, Sérgio Lee, Technology Optimist, veio abordar a sempre presente infâmia de que “a tecnologia rouba empregos”. Numa simples e direta constatação dos factos, o empresário afirmou, sem medo ou desconforto, que “nos próximos 25 anos 47% das profissões não vão existir”. Isto não é preocupante porque há algumas décadas atrás 50% dos empregos atuais também não existiam. Embora o público se tenha mostrado cético a estes factos e quase que intrigado pela veracidade dos mesmos, Sérgio é um vero defensor dos avanços da I&D não querendo rematar a sua apresentação sem nos assegurar que o futuro passa por aceitarmos estes desenvolvimentos, reconhecermos os seus benefícios e trabalharmos com eles.

Para continuar a explorar o mundo das tecnologias emergentes, Maneesh Juneja vem dar o seu “input” e fá-lo através de um testemunho pessoal. Inteira-nos sobre o atendimento ao público de um serviço britânico semelhante ao Saúde 24 português e compara-o com o mesmo tipo de serviço oferecido por uma “app”. Expor os nossos sintomas e procurar soluções. Maneesh afirma que a pressa, falta de inclusão e afastamento pessoal que a sua mãe havia sentido quando usou a linha telefónica não se espelhavam na forma como a “app” o fez sentir a si próprio. Então Juneja lança-nos o desafio: será que devemos apostar em robôs que tratem e cuidem de nós? Com mais compaixão que um humano?

Se esta questão nos deixou a pensar, então Moon Ribas, uma ativista “cyborg” e artista “avant-gard” deixou-nos completamente perplexos quando se apresentou como “parte robô e não totalmente humana”. Isto porquê? Porque a artista implantou sensores nas plantas dos pés de forma a poder estar em constante contacto com o movimento terrestre, incluindo com os fenómenos naturais. Como Moon afirma “I move accordingly to the intensity of the earthquake”.

É de afirmar que foi um dia repleto de mentes brilhantes que nos ajudaram a ver o mundo em que vivemos de outro prisma. Cada um de nós, que ouviu e reteve tudo o que lhe foi oferecido durante as apresentações, levou para casa ainda mais perguntas do que aquelas com que chegou no início do dia. Mas estas que trouxemos para casa, são fruto de uma mente agora capaz de pensar e abordar novos assuntos, problemas e estímulos. Estas dúvidas que vieram connosco advém, agora, da curiosidade e não da falta de saber. E no meio de todas estas intervenções incríveis, fomos ainda presenteados com 4 performances fantásticas e, como já é natural a sua presença no TEDxPorto, Nilton trouxe-nos o seu casual bom humor, através de “roasts” preparadas no momento que, como o próprio admitiu, “desafiaram a sua capacidade”, mas que foram sempre elaboradas de forma respeitosamente inteligente.

Beatriz Moreira

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