Sabe como começou?
Estados Unidos da América, século XIX. A escravatura é uma prisão para todos os negros. Ostracizados, tratam de procurar no Blues a salvação para as suas almas e mentes. Os escravos afro-americanos, mais no Sul dos EUA, cantavam Blues para se libertarem, expressarem as suas tristezas e invocarem os seus sonhos.
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| Figura 1: Escravos & Blues |
Abraham Lincoln, 1863. Como se de um herói se tratasse, põe fim a uma intemporal escravatura em terreno americano. A liberdade começa a ganhar forma, ainda que a prática não venha a ser de fácil implementação e aceitação pelos “seus donos”. O Blues acompanha este movimento, e tenta, como género, revindicar o seu espaço e reconhecimento, com W.C. Handy a tomar o papel de “Father of Blues”, como um dos primeiros compositores a publicar “the good old black music”.
Como qualquer liberdade e luta, sua influência é contagiante. Ao mesmo tempo, por toda a América, nomeadamente em Nova Orleães, constituída por uma vibrante cultura exótica de muitas nacionalidades e etnias, surge com expressividade, o Jazz.
Caracterizado como uma mistura de estilos, surge do cruzamento do Ragtime (um estilo alegre, ritmicamente dinâmico, num tom de marcha, não tão espalhado pelo país) e do Blues (uma expressão lenta, emocional e de dor pessoal). Inicialmente, “jass” ou “jazz”, um termo calão para sexo, apelidado por ouvintes fascinados pela sua energia frenética e exuberância emocional, toma como artistas de referência “Buddy” Bolden, Kid Ory ou Clarence Williams.
Estávamos no início do século XX, e a “Era do Jazz” surgia. Em Nova Orleães, ao mesmo tempo, a prostituição era parte integrante, pelo facto de em 1898, o prefeito da cidade, ter limitado esta atividade a uma parte da cidade, a conhecida “Storyville”. Com esta iniciativa, não permitiu que a prostituição proliferasse pela cidade, restringindo-se a “Storyville”, onde chegara a haver mais de duas mil prostitutas e inúmeras casas de prazer, casas, estas, que davam trabalho a muitos músicos que espalhavam todo o seu mágico jazz, ao frenético “New Orleans’ style”. Posteriormente, a permissão esgotou o seu tempo e, em 1917, a prostituição foi “encerrada” pela marinha no pretexto de atividade ilegal, fazendo com que muitos músicos se deslocassem, liderados pelo único Louis Armstrong, para Chicago, cidade apelativa à arte musical e que se viria a tornar na próxima grande metrópole do jazz americano.
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Figura 2:
Bairro “Storyville”
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A partir de Nova Orleães para toda a América, o Jazz construiu a sua forma, deu lugar aos seus artistas, e criou estilos em cada cidade de relevo. Hoje estilo mundial e versátil a outros géneros e combinações, “The American classical music” ao longo do século tomou diferentes percursos passando pelo “bebop”, “free”, “swing” ou “cool”.
Gostar de Jazz não é necessariamente gostar de todos estes estilos, tão diferentes na sua narrativa. É, sim, gostar de todo este sentimento e expressão que o jazz consegue transmitir, à parte do seu ritmo e fonia.
Jazz não se ouve. Sente-se. Intemporal.
Miguel Martim Leal


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