O mundo anda demasiado tenso. Tentam-se
assassinar espiões duplos, expulsam-se diplomatas, fazem-se “tweets”. Caminha-se
numa linha ténue entre a graça e a desgraça. A troca de “galhardetes” a que se
tem assistido entre os líderes das grandes potências mundiais faz lembrar dois
alunos da escola básica que se põem a discutir durante uma aula, obrigando o
professor a separá-los e a recorrer à falta disciplinar. Nessa situação, o
professor ouve dos alunos o mesmo que nós agora ouvimos dos líderes políticos:
“Mas stor, ele é que começou!”, “Pára de te chibar!”, “Lá fora resolvemos
isto!”, “Ai expulsas-me 60 diplomatas? Então expulso-te 120! Nhenhenhenhenhe!”
Penso que este cenário de briga durante a
atividade letiva será familiar ao leitor, admitindo uma variância considerável
conforme a instituição de ensino que cada um frequentou. Desde de “Oh seu
palerma, não admito que uses o meu corretor sem me consultar primeiro!” no
Colégio do Rosário, a murros, pontapés e “fdp” na Escola Básica e Secundária do
Cerco do Porto, existe um espectro enorme no que diz respeito ao comportamento
dos discentes. No entanto, nos dias de hoje, assiste-se a uma outra “nuance” nas disputas entre os chefes de
estado: “Oh seu palerma, se usas o meu corretor sem me consultar outra vez
levas com uma bomba nuclear em cima!”
As superpotências não resistem a armarem-se em “mázonas”
e a disputarem o título de “macho alfa” neste recreio que é o planeta. Em 2017,
a “Arms Control Association” estimava
que o arsenal nuclear dos EUA e da Rússia era de 6550 e 7010 ogivas,
respetivamente. Mas estas são armas de último recurso. Para quê destruir uma
metrópole em meros segundos quando se pode estar durante anos em altercações?
Como tal, a Rússia, segunda maior força militar do mundo, tem 766 mil ativos
nas forças armadas, mais 2,5 milhões de reserva só por causa das tosses.
15 400 tanques, 3547 aviões de combate, 60 submarinos e mais alguns
brinquedos que não se dispensam quando os países andam às turras. Em 2017,
apresentou um orçamento de 47 mil milhões de dólares, 3,9% do seu PIB. Impressionante…até
ver os EUA: orçamento para as forças armadas de 664 mil milhões de dólares
(2,4% do PIB), 1.4 milhões de tropas ativas e 1.1 milhões em reserva, 8848
tanques, 13 444 aviões de combate, 75 submarinos. Com tudo considerado, os EUA bem podem
ser considerados o “guna” da escola. Também ninguém irá chatear Israel porque “tem as costas quentes”.
No reverso da medalha, temos os “betinhos”, que
nem se dão ao esforço ou embaraço de ter forças armadas. Países como a Costa
Rica, Liechtenstein (contam com uma equipa SWAT para o caso de alguém assaltar
os bancos que têm dinheiro morto que foi para o paraíso) ou Tuvalu (força
militar: um navio patrulha da unidade de vigilância marítima) são alguns dos
“borrados” do planeta.
Portugal é aquele rapaz que não gosta de chamar
à atenção, que se dá bem com toda a gente, mas que todos sabem que não consegue
andar à pancada. A lição a retirar é que devemos continuar a não incomodar os
senhores supracitados. As nossas tropas ativas são bastante esparsas, sendo que
se devem desconsiderar os que estão na reserva. É que a maior parte do segundo
grupo, eu incluído, o mais perto que esteve do serviço militar foi quando, no
Dia de Defesa Nacional, almoçou arroz de pato na cantina do quartel da Serra do
Pilar. E se o Chefe de Estado-Maior está a contar com a nossa bravura, tendo em
conta que a última flexão que fiz foi em 2013, não auguro nada de bom para
Portugal.
Desta forma, talvez o mais aconselhável seja
estarmos sossegados aqui no nosso canto. Como país dos brandos costumes, a última
coisa que agora precisávamos era de ter uma “esperinha” à saída da escola. Mas
em vez do Flávio e dos amigos, quem nos queria “ir à tromba” eram as unidades dos
“Marines” ou das “Sily spetsial’nykh operatsii” com M4s, AKs e lança rockets.
Jorge
Gonçalves

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