A
imprensa, que tem os seus primórdios em antigas cidades como a Suméria e a
Mesopotâmia, nasceu para dar resposta àquilo que era, e ainda hoje é, uma
necessidade significativa para a sociedade: divulgar informação. Mas do que
tanto se fala? O que podemos dizer sobre os meios de comunicação que estão cada
vez mais imiscuídos numa comunidade também ela mais globalizada? Numa época
onde predominam valores como a desconfiança, o ceticismo e onde reina a
suspeição? Como diria Lucien Sfez, escritor francês, estamos perante uma
sociedade que “não sabe comunicar consigo própria “. O problema agrava-se,
assistimos a uma sociedade “light”, pobre de ideias, avessa a ideologias
fortes, onde há pouca coexistência e coesão e muitos “diz que disse”.
O
papel que os “media” têm é absolutamente incontestável, podemos até dizer que
uma sociedade só evolui se estiver bem informada. Este poder que vigora é
fundamental para dar respostas ao público sobre o que se passa ao fundo da rua,
e até mesmo para a construção de um indivíduo mais culto, completo e com um
espírito crítico mais desenvolvido. Contudo, este pilar da sociedade torna-se
cada vez mais débil quando o grau de autonomia é posto em causa e quando esta força
de divulgação é controlada por órgãos superiores tendo interesses que
transcendem a informação limpa. O campo dos “media” é assim, cada vez mais, um
espaço onde se cruzam os poderes económicos e políticos que são de certa forma
visíveis e assumidos. Mas será que este comportamento é causa de alguma
inquietação por parte da sociedade? Assistimos à “corrupção” do sistema e a uma
indiferença generalizada da população.
Partamos
para uma análise com uma magnitude problemática superior. Os políticos,
governantes, magistrados, agentes da lei deveriam ser como o “sal da terra”. E
porquê? Porque devem fazer na terra o efeito que o sal faz. Ora esse efeito é
impedir a corrupção. Mas vendo o nosso país tão corrupto como está e tendo nele
tantas pessoas que têm como ofício a política e a lei, qual será a causa de
tanta corrupção? “Será o sal que não salga? Ou a terra que não se deixa
salgar?” Pois bem, como diria S. António aos peixes, a situação é grave porque
o sistema é imperfeito de parte em parte. Se por um lado existe uma corrupção
com as “cortinas” abertas, por outro existe um “fechar de olhos” perante o
público e um conformismo abismal.
O
conformismo é como uma arma na mão de uma criança: é uma forma de dependência
da opinião ao nosso redor. Baseia-se no desconhecimento consciente dos valores
que uma pessoa entende e conhece, em favor da aprovação pública. Isto é
perigoso porque leva-nos a quatro consequências nefastas para a sociedade e
para o indivíduo em si: a perda de identidade, a estagnação do espírito
crítico, o empobrecimento da dignidade humana e o caminho em direção a uma
sociedade mais unificada e igual entre si.
Conformismo
esse resultante de uma “asfixia democrática”. As pessoas têm medo de falar?
Têm! Os empresários temem perder contratos se forem demasiado cáusticos? Sim!
Acham que os seus negócios, empresas, empregos são postos em risco? É verdade!
A
realidade é que o sentimento de liberdade em Portugal é raro. Existem
empresários e políticos que dizem o que pensam. Mas a maioria cala-se. Esta
atitude de passividade conjunta com um peso significativo e associada a um
Estado com demasiado poder traça-nos um quadro de “asfixia”. A nossa opinião
pode ser dada mas pode acarretar consequências. O povo tem esperança que este
quadro seja “pintado” em tons mais alegres e claros aquando da mudança de
pintor. Podemos assumir como sendo uma crença imortal, um mito que se funda na
eterna expectativa da vinda de um Salvador, que virá libertar o povo da
decadência e restaurar a glória e o prestígio nacional. Seja qual for o Governo
se não mudar a essência de certas medidas, nada disto tende a melhorar. A única
forma de alterar este ciclo vicioso é reduzir substancialmente o poder dos
governos para que não haja esta pressão sobre os “media” e sobre a população em
geral. Assim, os peixes grandes já não se subjugariam aos mais vulneráveis e
frágeis.
Estaríamos,
assim, a contribuir para a criação de gerações de cidadãos mais bem informados,
autênticos e pensantes. Isto leva-nos a tirar conclusões que se interligam e
encaixam entre si como um puzzle completo. Uma sociedade evolui tendo por base
uma boa rede de comunicação limpa e por sua vez, naturalmente, surge um “palco
de discussões”, sobre diferentes temas e visões. Quando esta informação é tida
como transparente, o resultado que advém desta troca de conhecimento é
positivo, construtivo e enriquecedor. O “sal” impede a corrupção, a “terra” não
se deixa corromper, e a área fica mais fértil para a construção de uma
sociedade mais culta, evoluída, moderna e fundamentalmente livre.
Francisca Duque de Carvalho

Comentários
Enviar um comentário