Na comemoração do quadragésimo quarto
aniversário da revolução dos cravos, mais do que falar de revolta, de liberdade
ou de política importa falar do homem que marcou esta data. E não, não me
refiro a nenhum general, militar ou civil. Refiro-me ao homem que liderou o
nosso país durante trinta e seis anos, que deu o melhor de si, que ajudou
Portugal em plena decadência económica e que, acima de tudo, dedicou a sua vida
à pátria. Refiro-me ao homem a quem ninguém consegue ficar indiferente, tão
odiado por uns, mas tão amado por outros.
António de Oliveira Salazar, professor
universitário de profissão, foi muito mais do que um “ditador”, como foi
injustamente apelidado. Foi alguém que lutou pelos interesses económicos do
nosso país e que teve a brilhante capacidade de o tirar da bancarrota em que se
encontrava. Ascendeu, por mérito próprio, ao cargo de Ministro das Finanças
perante um país falido e economicamente instável. Atrevo-me a dizer que foi um
ato de coragem. Coragem porque aceitou a responsabilidade de reerguer algo que,
já à partida, estava débil. Coragem porque é preciso ser dotado de “engenho e
arte” para restabelecer as finanças de um país. Coragem porque, perante todas
as adversidades, procurou o bem do seu país, aceitando a difícil tarefa de o
reformar. E, para mim, a nobreza de um político mede-se pelos princípios que
pautam a sua ação, como a coragem de enfrentar adversidades.
Foi o caso de Salazar, homem humilde e capaz,
que defendia a necessidade de, na política, “se falar verdade”. Foi uma figura ímpar
na reorganização e estabilidade política e económica nacional num período de
crise mundial. É certo que os políticos pós-revolução, por conveniência, sempre
procuraram pôr em causa a sua personalidade, a vivência dos portugueses e a própria
realidade económica do país. Contudo, é preciso não esquecer que havia uma
série de fatores na época externos a Salazar e à sua governação. Exemplo disso
é a “fome e miséria” que as famílias passavam. A culpa não era do Governo, nem
das condições económicas, mas sim dos usos e costumes em voga na época. As
famílias eram muito numerosas e não havia meios de transporte adequados para
abastecer de forma rápida e proporcional as necessidades básicas em algumas
regiões, o que levava a situações de pobreza, tal como ainda hoje existem.
É de enaltecer ainda a sua grande preocupação
em restabelecer a economia e minimizar as dificuldades do país. Portugal sofreu
grandes impactos enquanto o tentava fazer, como a Guerra Civil Espanhola e,
logo a seguir, a Segunda Guerra Mundial. Uma vez mais com coragem, Salazar
sobreviveu a este flagelo através do equilíbrio entre o campo e a cidade,
produzindo os produtos essenciais para a subsistência da população e não
deixando o país afundar novamente.
Nem tudo foi perfeito, é certo, contudo, teve
também muito de positivo. O equilíbrio económico é uma das maiores referências
do antigo regime. A economia era estável e os preços eram equilibrados face aos
salários, o desemprego era muito reduzido e havia poder de compra que permitia
que os assalariados conseguissem juntar dinheiro para investir, o que na altura
se baseava na compra de habitação própria. Éramos um país autossuficiente,
controlado e estabilizado o que nos permitiu um grande crescimento entre as
décadas de 40 e 70 - as “décadas de ouro do crescimento económico português”. O
nosso desenvolvimento económico foi muito superior ao da Europa e, até, ao do
resto do mundo. Também neste período houve uma evolução muito positiva nas
taxas de mortalidade infantil e de analfabetismo.
Então, porque é que só se critica a sua
atuação? Não acho justo que, de alguém cujos aspetos positivos excedem os menos
bons, sejam apenas ressaltados os aspetos negativos. O problema é este. É que
ao longo do tempo, a imagem deste homem foi sendo progressivamente degradada.
Nas escolas é retratado como se de um monstro se tratasse, no dia-a-dia é
recordado, principalmente pelos mais novos, como um fascista e, aqueles que o
admiram sentem, por vezes, receio de o expressar, tal é a repressão sofrida.
Este conjunto de fatores faz com que a ideia sobre este período da história do
nosso país e sobre esta personalidade em particular seja cada vez mais negra.
Não porque conhecem, não porque leram, não porque pesquisaram sobre o assunto,
mas sim porque lhes foi transmitido como se tivesse de ser assim. Mas não tem.
É importante reconhecer todo um leque de
características de exímio valor a este homem. É igualmente importante
reconhecer que, se estas características fossem adotadas pelos políticos da
atualidade, nunca permitiriam que tivéssemos caído numa nova crise ou em
escândalos como os que têm marcado o nosso país nos últimos anos. Neste
sentido, podemos apontar, criticar e descrever como quisermos a sua governação,
mas há uma coisa que todos temos de considerar do ponto de vista pessoal, o
desinteresse que António de Oliveira Salazar manteve ao longo de toda a sua
vida pelos bens materiais.
Nascido no seio de uma família humilde, foi
orientado para ser padre tendo, inclusive, frequentado o seminário durante oito
anos, o que lhe permitiu adquirir valores e experiências que manteve ao longo
de toda a sua vida, como a integridade que o pautava. Não usou o Estado para
proveito próprio, como tem vindo a tornar-se tão comum nos últimos anos,
governando sempre com um sentido de pátria e pelo bem económico da nação, como
o próprio afirmava: “tudo pela nação, nada contra a nação”. São princípios que
dizem muito sobre a personalidade deste homem. Por isso, e em comemoração do 25
de abril, importa quebrar a tendência e ter a coragem de relembrar este homem
pelas qualidades que tinha e não apenas pelos erros que cometeu.
“O homem
mais poderoso de Portugal
Do
século XX, e modesto sem igual
Nasceu
humilde e humilde cresceu
Viveu
humilde e humilde morreu
…
Medíocre
é o povo que com ele nada aprendeu”.
Catarina Cardoso


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