Avançar para o conteúdo principal

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

A sociedade está em constante mudança, todos nós temos a oportunidade de testemunhar a diferença nas mentalidades, nas atitudes, na maneira como vemos as coisas e lutamos por elas.

O que ao longo do tempo se tem vindo a verificar é que a sociedade deixou de julgar a validade das tradições só porque sempre foi assim ou porque os mais velhos e os mais tradicionalistas argumentam a seu favor.

A Páscoa, o Natal, das idas à feira, aos bailes da aldeia, todas as tradições foram perdendo a sua essência e já não são hoje o que eram antigamente.

A realidade é que a tradição, independentemente das deliberações de razão, continua em prática, ainda que, nem sempre, com fundamento. É esse o problema que leva às múltiplas manifestações de confronto que temos vindo a vivenciar, o confronto de posições entre os que defendem as raízes de uma tradição, e os que defendem o seu fim ou mudança. O controverso final da garraiada de Coimbra foi só o exemplo mais recente da evolução normal dos tempos.

No entanto, nem todos são aqueles que lutam contra o antigo e o tradicional. São muitos os que defendem a tradição, embora nem todos se submetam cegamente ao seu poder. Alguns apenas reveem nos seus valores o seu sentido de existência. Os restantes têm a plena noção de que não se pode acabar com uma tradição de um momento para o outro, mas pretendem mudar a tradição com uma perspetiva mais recente e a favor dos ideais que se defendem hoje em dia.

A verdade é que a mudança da tradição, seja a extinção, revolução ou o desenvolvimento de algo novo ainda é uma etapa da própria tradição que se está a tentar adaptar a um novo conceito de sociedade, adequando-se melhor às novas necessidades e maneiras de ver o mundo.

A longevidade de qualquer tradição irá depender sempre do meio e do tempo em que se insere e se, eventualmente, ocorrerem grandes mudanças na sociedade é normal que haja a necessidade de uma transformação da tradição por via da transformação dos preconceitos e ideais em vigor. Assim, a tradição vai-se moldando à medida que se altera a compreensão dela mesma, e dos valores que regem a sociedade. Posto isto, é importante que todas as gerações ponham constantemente à prova os seus preconceitos, ideais e valores com as tradições já existentes construindo assim uma nova realidade mais adequada ao tempo.

O que falha na maioria das vezes é a capacidade para se fazer uma interpretação correta das tradições e, para isso, é importante saber distinguir os juízos originários dos arbitrários que são determinados pelas nossas expetativas e preconceitos e que revelam a nossa maneira de pensar e a mudança da sociedade. Não podemos simplesmente esquecer o passado ou desvalorizá-lo, devemos olhar para trás com a expetativa de projetar o futuro, e conseguir refletir nesse passado as marcas do presente sem nunca se perderem os seus valores.

Assim, a tradição mantém o seu vigor apesar das transformações que vai sofrendo, abrindo novas possibilidades às gerações que se vão seguindo, e nesse sentido, a tradição acaba por ser uma autoridade. Uma autoridade que tem de ser posta em causa com o tempo pois há valores e atitudes que deixam de ter sentido para a sociedade e para o meio e o tempo em que estão inseridos.

O problema é que ainda são muitos aqueles que estão presos a uma rotina que os mantém distantes de qualquer rutura de tradição, por medo, receio ou contradição e daí as inúmeras controvérsias que temos vindo a assistir. Mesmo aqueles que através de uma atitude deliberada, tentam alterar a tradição, mesmo que não radicalmente e mesmo que a alteração pareça bastante razoável aos olhos dos demais, é sempre um processo bastante difícil e alvo de controvérsias, pois este rompe com o mundo com o qual estamos acostumados.

Resta-nos esperar que ao longo dos tempos surja sempre e cada vez mais a necessidade de mudança, que existam mais mentalidades dispostas a dizer e a fazer algo pela sociedade em que se inserem e sejam capazes de lutar por algo que se adeque mais ao mundo em que vivem.

Lara Almeida

Comentários

  1. Independentemente do tema, um jornal da FEP ilustrar um artigo com uma fotografia de Engenharia é uma pena.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mais lidas

Orgulho e preconceito

“ É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro, na posse de uma boa fortuna, precisa de uma esposa”. Publicado em 1813, “ Orgulho e Preconceito ” centraliza a sua história no amor que quebra preconceitos e une diferentes classes sociais. Elizabeth Bennet é uma das cinco filhas de um proprietário rural de Meryton, uma cidade fictícia nos arredores de Londres. Inteligente, determinada e impulsiva, Lizzie, como é carinhosamente tratada pelas irmãs, é-nos apresentada como uma jovem progressista e de opiniões fortes que precisa de lidar com os problemas existentes na sociedade inglesa da época. Apesar de saber que as possibilidades de ascensão social de uma mulher se limitavam a um bom casamento, Elizabeth é movida pelo amor, acreditando que apenas este a poderá levar ao altar. Conhece Fitzwilliam Darcy numa festa local, onde a sua arrogância a faz, quase de forma imediata, desenvolver uma ideia pré-concebida sobre ele. Estereótipo de um lorde inglês, Darc...