Um palco, vazio, despido, nu. Tela branca a colorir.
Cenário de imaginação e criação. Assim vê o palco Flávio Rodrigues, um artista
peculiar que se estreou recentemente no Teatro Carlos Alberto com o espetáculo
“Magma – No Limite da Selvajaria”.
Assistir a esta performance sacode-nos e faz-nos sair
da lógica e previsibilidade do nosso quotidiano de interações, conversas e
rotinas. O desenrolar arbitrário desta atuação causa confusão, estranheza e
espanto. O intérprete deambula, numa postura rígida, qual militar, de um lado
para o outro do palco, num padrão irregular. O inesperado acontece. A raiva
apodera-se de si. De rompante, pega em panos com manchados e sacode-os no chão.
Imóvel assim fica. Surge o silêncio, apenas quebrado pela música de fundo, um
monótono som de crepitar do fogo …
Segundo o intérprete, o ponto de partida da peça é a
violência. Violência num contexto de “guerra sem guerra”. Hoje em dia, perante
o individualismo contemporâneo, todos nós lutamos somente connosco próprios, a
sós. Não há confrontos bélicos entre nações, mas conflitos e guerras travadas
no cerne da nossa vida quanto às nossas ações e escolhas.
A roupa e as bandeiras queimadas (objetos cénicos que
Rodrigues usa durante a peça) e o estalido de chamas ardentes remetem-nos para
outra realidade: o aquecimento global.
É, sobretudo, uma peça sobre a atualidade. Sobre o
mundo que nos rodeia. Sobre o que todos vivemos e sentimos mas evitamos
refletir. É mais do que um espetáculo, é arte.
É a arte de Flávio Rodrigues, um artista multifacetado
com traquejo internacional que reside no Porto. Cidade na qual reconhece um
crescimento do investimento e da consciência em relação à cultura. Alerta, contudo,
para a tendência do consumo de “cooltura”, sugerindo que alguns produtos
culturais são subjugados aos interesses económicos, ou seja, ao que vende.
Certamente algo que dá que pensar. Um alerta para o
mundo submergido na racionalidade económica e nas análises de custo-benefício!
Alex F. Alves

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