Quem
seguir no Facebook as páginas do World Economic Forum, The Economist — só para dar alguns
exemplos — constata que a igualdade de género é um tema bem proeminente na
agenda política e institucional. Diversas iniciativas recentes, de entre as
quais a He for She, instigam a
discussão, a difusão de mensagens de acordo com os seus interesses. Contudo,
numa perspetiva pessoal, considero que os movimentos feministas atuais carecem
de contextualização. Se queremos uma reforma social que elimine por completo
sistemas sociais que serviram a sociedade ocidental até agora (o patriarcado,
e.g.) temos que incluir no nosso discurso o contexto histórico e socioeconómico
em que as sociedades evoluíram. Okay,
vamos acabar com a discriminação entre géneros, vamos idealizar um mundo
utópico, vamos concretizar a visão de, um dia, homens e mulheres, de mãos
dadas, caminhem no caminho do progresso em pé de igualdade… mas ninguém pára
para pensar um pouco e refletir na evolução da nossa civilização atual
sofisticada e perceber que os papéis de género, muito provavelmente, derivaram
da aplicação implícita do conceito económico de vantagens comparativas e que,
nesse sentido, fazem sentido. Serve o presente artigo para explicitar a minha
visão pessoal com o único objetivo de incidir um novo feixe de luz ao fenómeno
que se nos apresenta.
A
civilização, como hoje a conhecemos, desenvolveu-se muito recentemente no
quadro da história evolutiva do Homem (it’s
not my fault). As primeiras civilizações (Sumérios e Egípcios) emergiram há
cerca de 5.000 anos a.C. Anteriormente, as unidades socias mais extensas eram
tribos (caçadores-recolectores) constituídas por 150 almas vivas, nómadas e
cujo sistema económico rudimentar era o da subsistência. O que permitiu,
portanto, de entre outros fatores, a transição de errantes
caçadores-recolectores para os cosmopolitas e admiradores de arte civilizados
foi a agricultura. No cenário em que consideramos a vida humana antes do
desenvolvimento agrícola e civilizacional, será que a diferenciação entre
géneros não faria sentido? Haveria feminismo no tempo dos homens das cavernas?
Ou, melhor, havia necessidade de
ativismo feminista no tempo das cavernas?
Segundo
David Buss (1999), no âmbito da Psicologia Evolucionária, observamos uma
realidade que se designa por investimento
parental. Esta teoria postula que o sexo que investe mais recursos na
procriação é o que é mais exigente na escolha de potenciais parceiros, por
entre as opções que tem. Ora, como na generalidade dos mamíferos, é sobre o
sexo feminino que recai o maior nível de investimento. Para além da gestação de
9 meses, há um período de lactação posterior ao parto. Trata-se de um período
da vida das mulheres mais vulnerável pela natureza do papel que desempenha por
imperativos biológicos (talvez Deus fosse machista, não se sabe!). Soma-se a
esta equação, a ausência de contracetivos eficazes no cenário dos primórdios da
civilização que estamos a considerar e vêem-se os pressupostos racionais para
alocação diferenciada de tarefas entre os géneros baseado nas vantagens comparativas.
Os homens, em média, são mais fortes fisicamente que as mulheres. Talvez, por
tal razão, e possivelmente por outras também, os homens foram encarregues da
caça e da proteção da tribo contra forças externas adversas como predadores
animais assim como outras tribos que pretendiam possuir os recursos em sua
posse. Por outro lado, as mulheres estariam encarregues, na maioria das vezes,
da vida doméstica e da educação dos filhos. Tal decisão era prática. O género
que fosse relativamente mais produtivo e eficiente na prossecução de uma dada
tarefa, era o que seria responsabilizado por tal tarefa. Faz sentido neste
contexto que foi o nosso, durante milhares de anos antes da criação da
agricultura e da pecuária!
Como
referido por Jack Donovan (2012), o feminismo e a equidade socioecónomica entre
géneros estão alicerçados em três aspetos: segurança, globalismo e tecnologia.
Sem estes três pilares, o feminismo esmorecia perante a realidade em estado
bruto. Com a terceirização da economia nas nações mais desenvolvidas, com a
automatização dos processos produtivos repetitivos, com a existência de um
Estado de Direito assegurado por forças militares profissionais que apliquem a
coerção física aquando do incumprimento da lei, com a invenção e proliferação a
preços acessíveis dos contracetivos, as mulheres encontram-se num contexto em
que podem e devem reivindicar equidade no acesso às diferentes profissões,
decidindo-se montantes das remunerações e promoções profissionais de acordo com
a competência, exclusivamente. Hoje em dia, por causa destes fatores
supracitados assim como outros, não faz sentido a alocação por géneros aos
diversos setores de economia. Em competências intelectuais e socias, não há
quaisquer diferenças entre homens e mulheres, creio eu.
Aliás,
como patente em Pink (2006), enfrentaremos nos próximos anos uma transição de
uma economia do conhecimento/informação para uma Era Concetual, na qual as
competências sociais, empatia, procura de sentido, bem-estar emocional serão
valorizadas e que, preponderantemente, são expressas e detidas pelas mulheres.
Constitui, portanto, até uma vantagem para o sexo feminino.
Contudo,
não significa que lá por as grandes empresas e elites políticas terem defendido
publicamente a igualdade de género que seja algo que genuinamente apoiem.
Possivelmente, tal como referido por Chomsky (2016), haver eventuais diferenças
de diversa natureza (como etnia e género) são fatores de ineficiência numa dada
empresa, sendo do interesse corporativo que os cidadãos sejam despojados das
suas identidades originais culturais e sejam não mais que unidades do fator
trabalho substitutos perfeitos entre si e identidades consumidoras.
Para
além de todas estas considerações, há que entender que os fenómenos sociais não
são lineares. Ponto. Vejamos, por exemplo, o sucesso de vendas da trilogia 50 Shades of Grey assim como o sucesso
de bilheteiras da sua adaptação cinematográfica. Como se explica que, numa
sociedade em que há tanta conversa à volta da igualdade de género, a grande
maioria do público feminino consuma uma história de amor sadomasoquista na qual
as mulheres são indubitavelmente as submissas? Não será o dossier do senhor Grey no qual tem registado, como um catálogo de
produtos, as informações das suas submissas um crime humanitário, machista,
retrógrado, desprezável segundo as nossas conterrâneas feminista? Todavia, as
mulheres, em geral, por todo o mundo (nem todas, eu sei) deliciam-se e
fantasiam com este género que enredo que proliferou imenso nas livrarias…
expliquem-me isto, por favor!
Basicamente,
o que trago aqui é que o contexto socioeconómico modela o sistema social mais
adequado para a maximização do bem-estar das pessoas. Não podemos apagar
simplesmente o passado a partir do qual crescemos como Humanidade, não podemos
simplesmente atacar e menosprezar estruturas sociais já vigentes (como o
patriarcado) e os papéis de géneros sem questionarmos o porquê de terem surgido, mesmo sabendo que são meros constructos
sociais.
Alex F. Alves

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