2017
terminou com novos conceitos aos quais teremos de nos habituar: bitcoin, blockchain e “criptomoeda”.
A valorização, de aproximadamente 1.000%, da moeda digital bitcoin durante o ano passado, particularmente acentuada nos dois últimos
meses do ano, colocou a bitcoin e as
“criptomoedas” entre as notícias mais “badaladas”.
Mas,
afinal, o que é a bitcoin? A bitcoin é uma moeda digital que apenas existe
eletronicamente. É, mais concretamente, uma “criptomoeda” descentralizada. Uma
“criptomoeda” é um meio de troca virtual codificado para que não seja
percetível a informação sobre uma determinada transação na internet e, assim, garantir a segurança das trocas online. Não está associada a um banco
central ou a qualquer autoridade capaz de a regulamentar, fiscalizar e
controlar. Circula entre computadores, atuando, como ficou conhecida, como uma
rede entre pares, e não como a moeda que conhecemos do nosso dia-a-dia. Esta
rede, neste caso, de computadores, atua através de uma tecnologia denominada blockchain. A essência por trás desta
tecnologia está no registo inviolável das transações entre os pares
(computadores). Dada a inexistência de regulação, a integridade é assegurada
através de múltiplos registos. O objetivo é permitir o comércio direto
diminuindo custos e burocracias em consequência da eliminação de
intermediários, sendo que toda a informação se encontra encriptada, ou seja,
codificada de forma a assegurar a sua segurança.
A
bitcoin e o conceito de “criptomoeda”
surgiram em 2008 com o artigo “Bitcoin: A
Peer-to-Peer Electronic Cash System” assinado por Satoshi Nakamoto. No
entanto, o nome divulgado do criador da bitcoin
e do conceito de “criptomoeda”, Satoshi Nakamoto, é o pseudónimo de uma ou
mais pessoas não sendo, por isso, conhecida a sua verdadeira identidade.
Figura 1: Evolução do preço da Bitcoin em dólares (Janeiro 2017 – Fevereiro 2018)
Fonte: Buy Bitcoin Worldwide
O
aumento acentuado do valor da bitcoin nos
últimos meses colocou o tema das “criptomoedas”,
e em especial da bitcoin, no centro do debate da opinião pública
mundial. Neste período, entre Novembro e Dezembro de 2017, o valor de uma bitcoin duplicou de 7.000$ para 14.000$,
tendo mesmo atingindo o seu máximo histórico de 19.000$ a 16 de Dezembro. Desde
então tem desvalorizado e registado maior volatilidade. Vale atualmente cerca
de 8.500$, e apesar da queda face a Dezembro, regista uma clara valorização
face a Janeiro de 2017 quando valia menos de mil dólares a unidade.
Esta enorme valorização deveu-se,
principalmente, à maior procura por parte dos investidores após ter sido
considerada um ativo comercializável e à sua entrada em bolsa, em Dezembro
passado. Adicionalmente, a não regulação e o facto de ser usada na darkweb - não permitindo a identificação
de fontes e recetores -, também contribuiu para a valorização da moeda
digital.
Para que um certo bem seja considerado moeda,
este tem de garantir determinadas caraterísticas e cumprir três funções
essenciais numa economia. Para ser considerado moeda deve assumir-se como
reserva de valor - permitir guardar e transferir riqueza no tempo-, como unidade
de medida - medir o valor atribuído aos bens e serviços -, e como meio de troca
- tem de ser aceite como meio de pagamento. De forma a assegurar o cumprimento
destas três funções essenciais, a moeda deve ser durável, portável, divisível,
uniforme, limitada e aceite para que a troca aconteça. A moeda digital bitcoin não cumpre todas estas
caraterísticas. Apesar de guardar valor, este é muito volátil e esta
volatilidade tem implicação na unidade de medida da moeda, dificultando trocas
dada à sua limitada aceitação.
A enorme valorização da bitcoin ocorreu apesar de prevalecer a questão da definição de
moeda. Os investidores adquiriram bitcoin’s
de forma “louca” e sem prudência. Esta irracionalidade foi a causa para o
mercado ter ficado fora de controlo.
A queda a que assistimos recentemente
deveu-se não só a uma maior atenção por parte dos reguladores financeiros e à
sua possível futura intervenção mas também à investigação existente a empresas
envolvidas na negociação destes ativos.
Os riscos associados às moedas digitais como
a bitcoin têm sido alvo de atenção e
alerta por parte dos bancos centrais a nível mundial. Janet Yellen, pouco tempo
antes de cessar funções como presidente da Reserva Federal Norte Americana,
intitulou a moeda digital bitcoin como
um "bem altamente especulativo" que “não está sujeito à
regulamentação do banco central” além de que "desempenha um papel muito
pequeno no sistema de pagamentos". Também Mario Draghi alertou que
"as moedas virtuais estão sujeitas a grande volatilidade” e que “o seu
preço é completamente especulativo". Para o presidente do Banco Central
Europeu as “criptomoedas” evoluem "num espaço que não está
regulamentado" e que os bancos têm de ter em conta "um risco
elevado", sobretudo devido à grande volatilidade. Por sua vez, o diretor
geral do Banco Internacional de Pagamentos (BIS) definiu a bitcoin como “a combinação de uma bolha, um esquema ponzi e um
desastre ambiental”.
O registo das transações realizadas, neste
caso de bitcoin’s, tem o nome de
mineração e é um dos pilares da tecnologia blockchain.
O processo de registar transações consome níveis de energia muito elevados,
razão pela qual o diretor geral do BIS considera a bitcoin como um “desastre ambiental”. A título comparativo, a
totalidade da energia produzida em países como a Islândia ou a Irlanda não é
suficiente para alimentar este processo que exige aproximadamente a quantidade
de energia produzida em Marrocos, o que equivale a cerca de 60% da produção
energética de Portugal. Tal facto representa uma verdadeira ameaça.
O “fenómeno” a que temos assistido com a
ascensão das “criptomoedas” e, em especial, da bitcoin, simboliza, de certa forma, a revolta das pessoas contra o
sistema financeiro e económico, com as suas falhas e devidas consequências para
a sociedade em geral. Esta questão é uma possível explicação para a maior
procura, que impulsionou o valor da moeda, e, da mesma forma, o diminuiu face à
ameaça de uma possível regulação.
Acredito que a bitcoin, à semelhança das restantes “criptomoedas”, continuará a
existir mas não terá nem a força, nem a importância atingida nos últimos meses,
perdendo peso no contexto financeiro mundial. Contudo, a tecnologia blockchain vai subsistir e assumir um
papel importante no futuro da sociedade e do mundo. Impondo-se a necessidade de
um sistema bancário mais simples, global e digital, e dada a crescente
importância e desenvolvimento desta nova tecnologia associada às “criptomoedas”,
antevê-se a sua aplicação num sistema que acompanhe e regulamente as
transformações futuras.
Carolina Maia


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