No
dia 15 de dezembro teve lugar na FEP a conferência “O Futuro da União Económica
e Monetária”, com a presença dos eurodeputados Francisco Assis (PS), José
Manuel Fernandes (PSD) e Miguel Viegas (PCP). Num momento de intensa discussão
sobre o futuro das instituições europeias, esta conferência contribuiu para o
debate sobre o futuro da UE, aproximando os representantes políticos dos
cidadãos e, em particular, da comunidade académica.
Tendo
como pano de fundo o futuro da União Económica e Monetária (UEM), as
intervenções dos eurodeputados debruçaram-se sobre os temas que estão na agenda
das instituições europeias. Em destaque estiveram temas prioritários para a UEM
como a conclusão da União Bancária ou a criação de um Fundo Monetário Europeu.
Em ambos antevê-se convergência de posições entre os 19 países que integram a
Zona Euro sendo, por isso, apostas da Comissão e do Conselho Europeu para o
debate em curso da reforma do euro.
A
conclusão da União Bancária está dependente do Seguro Comum de Depósitos
atualmente em negociação. Caso seja implementado, espera-se que este mecanismo
atue sempre que qualquer banco da Zona Euro entre em processo de resolução.
Quanto à criação de um Fundo Monetário Europeu (FME) também parece haver
consenso uma vez que se pretende reduzir o poder do Fundo Monetário
Internacional (FMI) na Europa. O Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) seria
a base a partir da qual se construiria este FME, contudo está ainda por debater
como se processaria esta transformação e quais os poderes efetivos que estariam
a cargo do FME.
Estiveram
também em discussão alguns temas mais polémicos e nos quais não se preveem
avanços a curto-prazo. A criação de um orçamento da zona euro poderia
constituir um importante alicerce no processo de estabilização e convergência
macroeconómica entre os vários Estados-membros. No entanto, reticências por
parte de algumas capitais europeias fazem deste um objetivo a longo-prazo.
O
mesmo acontece com uma das propostas mais ousadas da Comissão Europeia que
pretende redesenhar o quadro institucional e o equilíbrio de forças entre os
principais intervenientes do processo de decisão europeu. A ideia da criação de
um Ministro da Economia e das Finanças da Zona Euro, que seria simultaneamente
Vice-Presidente da Comissão e Presidente do Eurogrupo, exercendo supervisão
sobre o FME e sendo responsável pelo orçamento da Zona Euro, tem vindo a
recolher apoios importantes entre as principais figuras políticas europeias, ainda
assim parecem insuficientes para trazer o tema para primeiro plano no debate da
reforma do euro.
A
extensão do Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos (FEIE), mais conhecido
por “Plano Juncker”, também foi abordada. O Plano Juncker, agora estendido até
2020, tem como objetivo dinamizar a economia da União Europeu procurando
essencialmente o estabelecimento de projetos de parceria com o sector privado. Apesar
de ser uma iniciativa de grande sucesso colocam-se dúvidas quanto à
possibilidade da sua extensão após 2020. Acresce que o presente alargamento
passa a abranger as regiões mais necessitadas de apoio para as quais já existem
fundos estruturais e de coesão.
Em
resposta ao Fepiano, o eurodeputado José Manuel Fernandes referiu a
possibilidade de criação de fundos de investimento regionais ou por setores da
atividade económica dentro do FEIE e a atual existência de sinergias com outros
programas - como o Horizonte 2020 e os Fundos de Coesão - que podem, no
entanto, ser alargadas e aprofundadas. Afirmou, também, que os FEIE têm um
importante papel no investimento na Europa e, em particular, em Portugal, o que
levou a que fossem tomassem medidas para que, em caso de recessão económica e
de diminuição do investimento público, os FEIE não sejam afetados na sua
execução, reforçando o seu papel de estabilização económica.
Discutiu-se,
também, com menos detalhe, o papel de estabilização macroeconómica da UEM, o
Semestre Europeu e o papel das instituições europeias na superação da crise económica
e financeira de 2008 e na subsequente crise das dívidas soberanas.
As
intervenções dos eurodeputados convergiram numa fase final para assuntos de
natureza política abrangentes à União Europeia. Debateu-se o projeto europeu,
os seus princípios e valores, os seus desafios e o seu futuro, com destaque
para as questões dos refugiados e dos nacionalismos extremistas. Neste sentido
questionamos o eurodeputado Miguel Viegas sobre o Pilar dos Direitos Sociais
procurando saber que medidas estão em discussão ou a ser preparadas pelo
Parlamento Europeu. O eurodeputado do PCP considera que apesar das várias
medidas positivas existentes não são ainda suficientes para considerar que a UE
se encontra no caminho certo no que diz respeito aos direitos sociais. Miguel
Viegas acredita que nos últimos anos a União Europeia tem seguido um percurso
de desregulação e de diminuição dos direitos dos trabalhadores e que a
declaração do Pilar dos Direitos Sociais não irá mudar esta tendência.
Também
o futuro da União Europeia tem sido largamente discutido. Têm sido muitos os
desafios apontados à sua evolução. Têm sido também apresentadas inúmeras
propostas no sentido de a reforçar internamente, junto dos seus cidadãos. Uma
das ideias que maior apoio tem recebido passa pela criação de listas
transacionais para o Parlamento Europeu. Quando questionado pelo Fepiano sobre
este assunto, o eurodeputado Francisco Assis foi assertivo. O eurodeputado do
PS defende a criação de listas transnacionais para o Parlamento Europeu, sendo
que o presidente da Comissão Europeia seria o cabeça de lista do partido
europeu mais votado. Considera, no entanto, que neste momento não estão criadas
as condições políticas para que esta proposta seja implementada.
Como
seria de esperar, as opiniões foram diversas e contrastantes, divergindo
profundamente em certos assuntos. No entanto, a discussão foi franca e
produtiva, sendo que todos os argumentos utilizados tiveram o objetivo de
promover um futuro melhor dos cidadãos portugueses e europeus.
José Mário Sousa
Nuno Sousa

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