Retrospetiva:
humana, racional, necessária; consequência do desfecho de alguma coisa, óculos
novos e graduados para o sujeito que agora se coloca por fora com a certeza de
que fará um julgamento relativamente melhor do que anteriormente.
Ensinam-nos
o conceito de “trade-off” e logo à
partida aprendemos a sua aplicabilidade; não obstante, é de relevar o seguinte:
aplicá-lo não é o mesmo que entender as consequências da decisão em toda a sua
extensão, porque ao contrário daquilo que se encontra modelizado, os agentes,
na sua maioria, não são racionais.
O
conceito de estudante foi revolucionariamente revertido. Fazer parte da FEP é
equiparável a uma contínua experiência de recrutamento. A balança do “trade-off” vai descaindo sucessivamente
na direção inversa à da convenção popular de que o papel do estudante é ser um
estudante e somos imergidos no “pot
pourri” associativista que tanto acreditamos ser o primeiro passo para a
vida plena e certa.
Pied Piper of Hamelin
Circunstritos
a um sistema infinitamente maior que nós para o conseguirmos mudar, acabamos
por embarcar na homogeneização para com o meio. Dispomos de muitas alternativas
e aqueles que vêm antes de nós falam-nos, sobranceiramente, de uma posição em
que também nós vamos desejar querer estar, porque o “pitch” que nos fazem é eloquente e sublime, porque o futuro só se
concretiza na medida do nó da gravata que convém irmos treinando, porque são
precisos escapes para a estranheza que é entrar na Faculdade e impera arranjar como
passar o tempo. Duas considerações: primeiramente, nada disto é necessariamente
mau, porque é altamente plausível encarar este tipo de abordagem como uma
receita extremamente funcional e com provas dadas suficientes para produzir
muito bons resultados no longo prazo, considerando aquela que é a métrica
usualmente tida em conta para classificar “sucesso”: rendimento, casa, carro,
reconhecimento pelo semelhante; em segundo lugar, o tipo de regressão mental
que faço é altamente subjetivo e contraditório, o devaneio consciente de alguém
que reconhece as valias do sistema, mas que teme a sua incompatibilidade em
alguns pontos inerentes à sua própria condição humana, naquela que será a minha
métrica altamente subjetiva e pessoal de contabilizar o meu próprio sucesso
enquanto indivíduo. Portanto, reservo-me ao direito de ser contraditório na
ação: não é uma urgência que me preocupe.
A
inevitável realidade é a de que nada é líquido: será falacioso cair na espiral
da crença de que todo o esforço será retribuído numa relação de troca equivalente,
pois, à semelhança de tudo o resto, impõe-se a criação de expectativas
conservadoras, bem por baixo, para salvaguardar desgostos e consequências
bastante mais realistas do que aquelas que a nossa visão turva fazia antecipar.
Que bons são estes óculos que fui arranjar.
É-nos
intrínseca a vontade de fazer escalar algum tipo de sentimento de pertença.
Como animal gregário, fazer parte de alguma coisa é basilar no cumprimento de um
certo propósito transcendente que acreditamos assemelhar-se à verdadeira
concretização de algo como um “legado”. Olharemos para este tempo com Saudade,
verteremos uma lagrimita singela ao colocar as coisas pelas quais mais fizemos
na vida nas mãos daqueles que nos sucedem. Damos por nós no extremo do “trade-off” e sentimos que a vida perde
alguma graça: é tão difícil não ter como passar o tempo; mas Ele vai passando e
os modelos permanecem imutáveis.
Aparentemente,
os agentes continuam a ser racionais.
Tiago
Ferreira Meireles

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