Passou
cerca de 1 ano desde a eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados
Unidos da América. Devido à campanha eleitoral por ele protagonizada,
caraterizada pelo discurso protecionista e, segundo muitos, xenófobo, o
pessimismo à volta do próximo homem a comandar os destinos do país era muito. Receou-se
principalmente que os Estados Unidos da América, a principal potência económica
e política mundial, sofressem uma mudança de estratégia drástica que
comprometesse esse papel de pilar da estabilidade. Como se sabe, os EUA são por
muitos considerados o país que representa e, de certa forma, lidera o mundo
ocidental e democrático. Entretanto, um ano passou. O que mudou? Confirmam-se
os receios? Como mudou a posição dos Estados Unidos no panorama económico e
geopolítico internacional?
Se
há algo que caracteriza as políticas económicas e comerciais de Donald Trump é
o protecionismo comercial e económico, como se vê pela sua atitude em relação
ao novo papel da China no comércio internacional e em relação às empresas americanas
com fábricas no exterior, não só na China, mas também no México. Aliás, Trump
nunca o escondeu. Uma das suas principais bandeiras enquanto candidato
presidencial passava pela renegociação ou abandono do Tratado Norte Americano
de Livre Comércio (NAFTA), quando chegasse ao poder. Esta
área de comércio livre é composta pelos EUA, Canadá e México. O Presidente
americano acredita que este acordo não beneficia o seu país e só beneficia o
México. Considera mesmo que o NAFTA é “o pior acordo de comércio de sempre
aprovado nos EUA”. Terá Trump razão? De facto, o México tem
beneficiado muito com este acordo, desde a sua assinatura em 1994, e tem
tentado nivelar com os outros dois países do tratado, que sempre foram mais
desenvolvidos. Os EUA, contudo, também tiraram proveito do acordo, nomeadamente
alargando o mercado ao qual as suas empresas têm acesso. Sair do NAFTA neste
momento, além de reduzir o mercado disponível, iria prejudicar ainda mais as
relações entre os EUA e o México, que ficaram muito danificadas com o célebre
projeto do muro, também de Trump. Assim, o cenário previsível neste momento é o
de uma renegociação do tratado, o que parece positivo.
Outra
aliança da qual Trump sugeriu sair foi a NATO. Este tratado de âmbito militar é
composto, além dos EUA, pelo Canadá e por uma grande parte dos países europeus,
sendo um elo de vital importância entre os EUA e a Europa. No que concerne à
política militar, sempre foi intenção de Trump, aumentar os gastos em defesa do
país. A exemplo disso, em setembro deste ano, o Senado norte-americano passou
uma proposta que prevê um gasto adicional de 700 mil milhões de dólares, o National Defense Authorization Act. No entanto, Trump acredita que os EUA
deviam contribuir menos para a NATO, insinuando que os outros estados-membros
não cumpriam com as suas obrigações no que toca a gastos com defesa. Isto
porque na NATO, todos os estados-membros acordaram gastar 2% do seu PIB em
defesa. No entanto, só 5 dos 28 cumpre esse acordo, e os EUA são, de longe, o
país da NATO que mais gasta em defesa, 3,61% do PIB, seguindo-se a Grécia, que
gasta 2,36% do seu PIB em defesa. Mais uma vez, e como aconteceu com a NAFTA, a
administração americana afastou o cenário de saída, mas admitiu proceder a mudanças
no acordo da NATO.
No
plano comercial com a Europa, a política de Trump voltou a ser a mesma, isto
porque as negociações para a formação da Parceria Transatlântica de Comércio e
Investimento (TTIP) foram interrompidas, mas já foi admitido por parte dos EUA
que podem ser reativadas. O presidente americano insiste que não é contra
acordos comerciais, como este, mas que apenas pretende que deles saiam melhores
condições para os EUA. Como o TTIP é um acordo que é igualmente impopular na
Europa, uma renegociação pode ser vantajosa em termos políticos para os líderes
europeus, e pode até ser encorajada, como o fez Angela Merkel. No entanto, tal
como Trump só aceita negociar com os seus termos, também Merkel e os seus
congéneres só aceitam negociar se o acordo beneficiar mais a Europa.
A
fricção que se sente sempre quando toca às relações de Trump com outros líderes
ou estados é notória noutros campos. Talvez o caso mais visível seja o da
relação entre o presidente americano e o líder norte-coreano Kim Jong-un. As
diversas ameaças de ataques militares que são feitas pelos dois estadistas
assumem uma posição quase constante nas notícias, e o clima que foi criado não
é nada saudável. No entanto, não creio que vá haver uma ação militar por parte
dos EUA na Coreia do Norte, pelo menos no futuro mais próximo. A Coreia do
Norte não é tanto um ponto fulcral para os EUA no plano militar, mas é, na
verdade, uma boa maneira de Trump ter algum controlo, por mais diminuto que
seja, sobre a China. Isto porque o presidente americano, aquando da visita que
fez à China recentemente, conseguiu com que o governo de Xi Jinping aplicasse
sanções à Coreia do Norte, nomeadamente no plano comercial, o que afeta
bastante uma Coreia do Norte muito dependente do vizinho a norte.
Por
esta altura, e pelas promessas ou intenções do novo presidente americano, seria
de esperar que os EUA tivessem uma posição já algo diferente no contexto
económico e geopolítico mundial. Apesar disso, essa posição não se alterou até
agora, e não se espera que vá mudar, pelo facto dos recuos por parte da
administração americana no que toca ao que foi dito no passado. Isto poderá ser
por Trump ter percebido que a posição atual do país é vantajosa para a sua
economia e para continuar a ter o estatuto de grande potência mundial. E claro,
porque há medo por parte dos EUA de perderem essa posição para a China no
futuro. E se há coisa que Trump não quer, é perder para a China.
Francisco Centeno

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