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O fim do “autismo” na economia

Numa faculdade que se vê afogada em sheets de Excel e modelos econométricos é preciso falar de pessoas. Perdoem-me a audácia, mas a ciência económica é, acima de tudo, uma ciência social.


Foi essa mesma audácia que levou um grupo de estudantes universitários parisienses a propor uma nova abordagem ao ensino da economia. O início do século XXI combinado com um ambiente de fome por mudança levou-os a publicar uma carta aberta no jornal “Le monde” onde reivindicavam uma reforma curricular que tratasse a economia como uma ciência social, humana e plural. Uma ciência consciente de que só o Excel não resolve e de que a matemática deve ser usada como ferramenta de ajuda à economia e não como fim de si mesma. Assim, levantou-se a voz do corpo estudantil contra o uso descontrolado da matemática, a falta de pluralismo das abordagens económicas e a fraca ligação à realidade. Chamaram-lhe “Manifesto Pós-Autista”.

Hoje mais do que nunca é necessário um debate aprofundado sobre a teoria económica e a forma como as faculdades de economia promovem a investigação na área. A crise financeira ter acontecido foi uma avalanche não só para a economia, mas também para a teoria economia. Como é que ninguém previu a crise? Estaremos a queimar pestanas por uma teoria que está errada? Ou, como defende Giles Saint-Paul (2009), a crise era impossível de prever porque a economia é demasiado complexa?

Se assim for para que servem os economistas? Se assim for para quê passar noites a tentar perceber modelos macroeconómicos? É urgente combater estas ideias! Para isso não podemos ignorar que a teoria económica falhou mais uma vez em 2008, mas, além disso, não podemos deixar que volte a acontecer. As crises financeiras são, na verdade, ocorrências relativamente frequentes com padrões claros. O nosso dever enquanto futuros economistas é defender uma teoria económica onde os modelos macroeconômico detetem as crises financeiras, caso contrário não são modelos do mundo real. Se permanecemos mergulhados no (i)realismo da eficiência absoluta dos mercados financeiros, sem espaço para debate e pensamento crítico, não estamos a fazer mais do que viver na nossa bolha e esperar que a próxima “bolha” rebente.

Mariana Esteves
Inês Soares da Costa (Fotografia)

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