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Não há 22 sem 23

A COP 23, Conferência das Nações Unidas para as alterações climáticas, concluiu-se há algumas semanas. O evento, que reuniu alguns líderes mundiais e figuras governamentais de todos os países, foi uma tentativa de salvação do planeta. À partida, como seu habitante, isto deixar-me-ia bastante confortado. O problema é que já vão em 23 tentativas. Reconheço que estas se têm tornado mais sofisticadas. Também é certo que um leigo como eu não entende a complexidade da implementação das medidas acordadas no COP 21, realizado há dois anos em Paris. Entre avanços e recuos, a chanceler Merkel já se mostrou cética relativamente aos objetivos traçados em 2015 para limitar o aumento da temperatura global a 2 ºC até ao fim do século, apresentando também alguma ponderação no que diz respeito à redução do consumo de carvão na Alemanha. Para grande parte dos cidadãos, fica a sensação que as conversas foram começando há 22 anos em Berlim, e que a ação está numa espécie de processo de acompanhamento da averiguação da viabilidade da execução sustentada das medidas. Para o comum mortal isto é pouco mais do que um encadeamento redundante de substantivos. Um encadeamento que pretende incluir todas as partes interessadas, partes contrainteressadas e aqueles que estão bem de qualquer forma, desde que o dia acabe com a cabeça a pousar-se na almofada. Esta situação acaba por se perceber uma vez que, na pior das hipóteses, estamos apenas perante o fim da humanidade. E embora reconheça que o término da espécie humana é algo que se perspetiva como desagradável, felizmente, é daquelas coisas que mata, mas não mói. 
Por vezes, quase que parece que os líderes mundiais estão a frequentar uma daquelas cadeiras em que a entrega do trabalho é só no fim do semestre. E, nesta área, todos estamos familiarizados com a estratégia adotada. Primeiro, forma-se o grupo. Depois, iniciam-se conversações no sentido de começar a combinar quando se vai começar a falar para começar a pensar em começar a trabalhar. Seguido da combinação, vem, evidentemente, o começo das falas para o começo do pensamento no começo do trabalho. Resultando do diálogo a aprovação para o começo do pensamento, entramos então na fase de meditação. Por respeito a quem está a segurar estas folhas ou mesmo a ler no seu dispositivo eletrónico, aqui me abstenho de continuar a descrição das restantes etapas. Seria uma leitura bastante penosa, e nessa vertente creio que este texto já seja capaz de providenciar um serviço otimizado. O desfecho da história também já é conhecido da comunidade académica. Eventualmente, a entrega do trabalho será feita no último dia do prazo às 23:59. A minha esperança é que a humanidade não entregue o seu trabalho no dia 31 de dezembro de 2099, com mais 1,9999 °C que na época da pré-revolução industrial. Até porque, esporadicamente, os emails não chegam ao destinatário, e nesse caso, temo que a professora Terra não seja tão benevolente como os docentes da Faculdade de Economia.

No que concerne à emigração do planeta Terra, os cenários também não se afiguram muito favoráveis. A não ser que a Space X e Ellon Musk comecem a arrepiar caminho, não estaremos em Marte nos próximos tempos. E mesmo que o empreendedor sul-africano, canadiano e americano se exceda, esta hipótese também terá o seu reverso da medalha. Afiguram-se longas filas de espera nas lojas do cidadão para a obtenção de passaporte, pois duvido que os líderes europeus tenham incluído as terras marcianas no espaço Schengen. O que é pena, porque trocava de bom grado um T2 em Matosinhos por uma vivenda na encosta do Monte Olimpo com vista para as fendas Gordii.

Jorge Gonçalves

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