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Black Friday

24 de novembro foi um dia muito aguardado por um grupo particular de portugueses: aqueles com poder de compra. Bem… provavelmente não foram os únicos. Como bons consumidores que somos, temos um particular interesse pelo crédito. No entanto, de algo estou certa. Esta sexta feira, que se alastrou por mais alguns dias, foi uma intensa corrida onde os únicos vencedores foram os comerciantes.


Pensa-se que o conceito de “Black Friday” tenha entrado no vocabulário dos “capitalistas por excelência”, e com esta expressão refiro-me aos americanos, nos anos 90 para assinalar o dia a partir do qual as contas dos vendedores passavam a positivo através da abertura do período de compras natalícias demarcada por fortes ações de vendas. Hoje este dia, que já ganhou tradição, é muito mais do que uma simples abertura de época de promoções. Lojas abrem mais cedo com multidões à porta a forçar a entrada tentando aceder aos artigos antes que esgotem, “sites” com problemas de funcionamento por excesso de acessos, a denúncia de fraudes aumenta relativamente a outras alturas do ano, entre outras situações peculiares.

A mudança do tipo de discurso na enumeração de fenómenos passando de uma visão positiva em que os consumidores estão felizes no seu ato de consumo para um visão em que esse consumo se torna sinónimo de um novo problema é realmente interessante. É o de tal forma que nos faz colocar a questão: porque haverão os portugueses de continuar a tomar a decisão de satisfazer a sua necessidade de compra neste dia mesmo sabendo que as denúncias de fraude são frequentes? Porque a sua natureza impulsiva de consumo não lhes permite diferente comportamento. Não digo com isto que todos somos consumidores compulsivos, mas devemos admitir que uma etiqueta vermelha ou um risco sobre o preço continuam a desviar muitos portugueses para o caminho dos comportamentos impulsivos que apenas são avaliados quando chegam a suas casas e avaliam realmente a oportunidade que lhe foi exposta percebendo que o seu custo não compensa o benefício obtido.

As reclamações são variadas começando pelo “bestseller” aumento de preços antes deste dia para justificar descontos elevados, passando pelas compras não entregues por falta de “stock”, e chegando ao fantástico fenómeno da magia das lojas fictícias ou dos produtos contrafeitos e pirateados em grande parte divulgados nas redes sociais. Tendo em vista salvar a pátria desta febre malévola, para além de informação sobre direitos e deveres dos consumidores, com devida justificação legislativa, a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO) partilhou ainda a ferramenta “Comparar Preços”. Esta ferramenta, que facilita a tomada de decisão através de um semáforo atribuindo um significado diferente a cada uma das cores baseado na evolução de preços dos últimos trinta e um dias, revelou-se muito útil evitando que os efeitos fossem mais nefastos devido a decisões mais conscientes.

Em suma, é de senso comum afirmar, e, com isto, também alertar, que o único objetivo deste dia é, na verdade, incentivar o consumo, não como benefício do consumidor, que pensa que as suas efémeras necessidades são satisfeitas a preços únicos, mas sim do comerciante que vê os seus “stocks” escoados a bons preços de forma rápida e sem grandes esforços ao nível de ações de vendas.

Ana Santos

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