Persépolis
podia ser o retrato de uma sociedade dominada pelos conflitos culturais e
políticos da Revolução Iraniana de 1979, mas isso seria demasiado redutor. Persépolis é a tentativa ambiciosa de
mostrar o lado humano de um conflito que reverteu os valores de uma sociedade,
retirou direitos e liberdades e dominou a juventude da autora, Marjane Satrapi.
Em
estilo BD, o filme de 2007 com inspiração autobiográfica, acompanha a vida de
uma menina de 9 anos, Marjene, até à vida adulta, em paralelo com o desenrolar
do conflito iraquiano. Como ocidentais é provável que pensar na cultura
iraquiana levante questões e por vezes medos inerentes à ignorância, mas existe
um lado da história que é invariavelmente passível de compreensão, o lado
humano.
A
história começa em 1979, quando a revolução para destronar o Xá (imperador) se
encontra no clímax. A pequena Marjane levanta o punho na sala de casa e grita
“Morte ao xá! Morte ao xá”. Enquanto a esperança de acabar com o regime
opressor cresce, as brincadeiras de criança ganham um caracter político
inevitável.
A
revolução é um processo de libertação que abala as velhas relações e abre
caminho à criação de novas. Mas quando este trabalho cai nas mãos de idealistas
retrógrados cujo único interesse é preservar a velha ordem sob uma nova forma,
então voltamos à estaca zero. Foi o que aconteceu no Irão. Após derrubado o
velho regime monárquico, em 1981, instaurou-se a República Islâmica, que carrega
a opressão que se afigura ainda extremamente atual.
Na
tela esta passagem é representada pelas imagens de raparigas que usam véus negros
na escola, enquanto a professora explica a importância de preservar o corpo
feminino dos olhares dos homens. No meio deste conformismo levanta-se uma nova
força, uma revolta no feminino face à República Islâmica e às regras tiranas
contra a liberdade. Persépolis assume na primeira pessoa, pela voz
da agora adolescente Marjene, a indignação e a revolta contra a situação da
mulher naquela infeliz ditadura teocrática e machista.
Perante
a rebeldia revolucionária de Marjane contra poderes que não podia combater, a
sua família decide retira-la do país. Aí Marjane inicia a sua aventura em
Europa. Em Viena junta-se aos autoproclamados alternativos. Numa tentativa de
escape da realidade mergulha na literatura absurdista, niilista e anarquista.
Contudo, não deixa de se debater um dever que sente como seu: ajudar o seu
país. Como é que a vida pode não ter sentido? Quando o seu país está em guerra o
sentido da vida deve ser derrubar a classe opressora.
Após
viver uma amálgama de experiências e emoções em território Ocidental, Marjane
regressa a casa com um sentimento de fracasso. É aqui que Deus e Marx lhe
aparecem e relembram que “A luta continua!”.
Assim,
Persépolis não é apenas um filme. É um exercício de desconstrução que todos
devíamos fazer. O que se passou no Irão foi um retrocesso, uma lembrança que os
direitos que temos hoje não são garantidos e que temos de lutar por eles todos
os dias. A luta continua!

Comentários
Enviar um comentário