É
inalienável da nossa condição de estudantes do ensino superior a interrogação
em questão: “A Universidade pode e deve ser diferente?”.
Em
primeiro lugar, o senso comum dita que o ensino superior é um estágio propedêutico
essencial para o ingresso bem-sucedido no mercado laboral actual. Basicamente,
as universidades são responsáveis pela criação de capital humano eficiente,
que, por sua vez, instiga o progresso técnico que é, nesta linha de
causalidade, segundo os modelos de crescimento económico, o principal percursor
do crescimento das variáveis “per capita”. E, no final, vivemos todos felizes
na abundância material!
Aliás,
essa visão puramente pragmática vinculada à primazia da empregabilidade como
métrica única da qualidade e potencial de um dado “curso” consubstancia-se na
legislação portuguesa para a acreditação dos cursos e definição do número de
vagas.
Por
outro lado, antagonizando esta realidade actual do ensino superior, há um coro
de vozes que identifica diversos problemas como, por exemplo, os relacionados
com a admissão de alunos, o financiamento dos mesmos, a carreira dos docentes
universitários, o currículo e o governo das universidades. Abordarei, no
entanto, apenas dois destes pontos.
1.
O actual processo de admissão de alunos caracteriza-se pela uniformidade dos
critérios de admissão (por fases) entre as diversas universidades e
politécnicos que apenas tem em linha de conta o aproveitamento escolar no
ensino secundário e as notas obtidas nos exames nacionais. Ora, neste contexto,
no que concerne áreas intrinsecamente vocacionais como medicina, direito e
engenharia, as instituições nem sequer consideram os talentos, o interesse e
outras competências transversais (empatia, resiliência emocional, criatividade,
…) e, por isso, implicitamente, afirmam que, ser um bom médico, por exemplo, é
obter elevadas notas nos exames de matemática, biologia e física.
Alternativamente,
as universidades poderiam definir autonomamente os critérios de admissão, que testes
considerar ou optar por administrar testes próprios, de modo a aferir melhor a
capacidade dos futuros consumidores dos seus serviços.
2.
O Currículo. Actualmente, os currículos são pouco diversificados, rígidos. Não
permitem a circulação de alunos por entre diferentes áreas de saber e
departamentos — prematuramente somos forçados a afunilarmos as nossas escolhas.
Em suma, o modelo curricular é autárcico.
Diferentemente,
devia haver muito maior flexibilidade na escolha das unidades curriculares por entre
a panóplia existente, explorando novos interesses e enriquecendo-nos
culturalmente com a confluência de indivíduos e professores de distintas
disciplinas.
Adicionalmente,
as universidades deviam ter a capacidade de criar e extinguir os seus próprios
cursos e currículos e não depender de pareceres de entidades exteriores como a
Agência Nacional de Acreditação.
Concluindo,
num contexto de mutação constante no mercado laboral onde cada vez mais
entidades patronais exigem espírito crítico, pessoas que saibam pensar e
argumentar, ler estatísticas, uma Universidade autónoma e que preze a
multidisciplinaridade e o conhecimento pelo conhecimento é uma necessidade
premente nossa!

Comentários
Enviar um comentário